quinta-feira, 2 de abril de 2015

Demência

Tenho horror a este substantivo. Sinto arrepios. Fico angustiada. Não me afligem as letras que constituem a palavra. Sinto um aperto quando a ouço, quando a leio, quando a penso. Sinto-a como misteriosa, triste, dolorosa. 

Ontem, como todas as quartas, vi a Grey's Anatomy. Deixemos os pormenores picantes de lado (a Shonda põe toda a gente a enrolar-se com toda a gente). Começou com um casal a entrar na urgência. Ela aparentemente bem. Ele em muito mau estado. Estavam em casa e um carro entrou disparado pela casa, atropelando-os, literalmente. Ele teve que ir imediatamente para o Bloco. Ela não. E ainda bem, pensei eu. Estava grávida. Mas, de repente, teve uma convulsão e morreu... Fizeram o parto. Nasceu um bebé, já sem mãe. Ai que nó na garganta. Ai que vontade de ir a correr pegar no Pedro e agarrá-lo com todas as minhas forças.

Paralelamente conhecemos a história do condutor. Essa pessoa que provavelmente estaria bêbada e estava a provocar todo aquele caos familiar. Um senhor já com uma certa idade. Não se lembrava de nada. Chegou a mulher. Resolveu a dúvida. O marido tinha Alzheimer. Ela tinha ido tomar banho e o marido apanhou a chave do carro e saiu. E aqui já não me aguentei e as lágrimas começaram a cair. Para quem não sabe, o meu pai teve uma demência. Morreu aos 50 anos. E à medida que os anos passam, mais acho que foi cedo demais, novo demais. E também o meu pai chegou a sair com o carro sem que nos apercebessemos disso. Aflição? Medo? Impotência? Tudo! Passou-nos de tudo pela cabeça. Mas sobretudo tinha medo que naquele momento ele pudesse ter um acidente e morresse, magoasse alguém. Felizmente isso não aconteceu. E nós passamos a estar mais atentas. Mas aquilo que o episódio de ontem mostra também é o papel dos cuidadores destes doentes. 24/24. Sem direito a descanso. Sem direito a tomar banho... Não há apoios nenhuns para estas pessoas, que tantas vezes ficam doentes por cuidarem dos seus doentes. Que tantas vezes perdem o amor da sua vida, tendo-o ao lado... No meio do episódio há um acontecimento que dá a oportunidade ao doente de melhorar. Mas ele não quis. Porque soube que matou uma mulher grávida e não queria lembrar-se disso. Sim, é ficção. Mas ver a imagem da mulher dele enquanto dizia "não posso voltar a perder-te!" deixou-me vazia. Vazio, foi o que senti ontem. As minhas memórias saltaram todas das gavetas onde estavam arrumadas. E voltei a lembrar-me que perdi o meu pai várias vezes. A primeira bem antes dele morrer, quando lhe diagnosticaram a doença. Continuo a perdê-lo, sempre que me faz falta, todos os dias, a cada passo que dou!!

Para ti, que és o primeiro amor da minha vida...


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