segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A caminho das corridas desta vida...

Em Março de 2014 olhei para o espelho e decidi que era o momento de fazer alguma coisa para mudar o que via. Tinha mais 20 kgs do que hoje (e hoje ainda não tenho o meu peso ideal. É certo que também já estive mais magra, mas o Natal e uma gripe ajudaram-me a descontrolar...). Tinha um filho nos braços, que nasceu prematuro e blá, blá, blá (já sabem tudo porque já escrevi sobre isso...), uma depressão pós-parto e odiava o que via. Em Março deste ano estava ainda a amamentar. Não podia cometer as loucuras de outros tempos, nem o meu corpo, aos quase 36 anos, respondia da mesma forma às dietas malucas de outrora. A solução teria que ser diferente. Procurei ajuda especializada. Fui à Clínica de Nutrição do Porto. Criaram-me um plano alimentar, perfeitamente possível de fazer sem ansiedade, por sinal, fiz tratamentos e... Foi um caminho longo, mas foi esse caminho que permitiu que eu mantivesse a amamentação até o meu filho não querer mais e, ainda assim, emagrecer.
Mas, o plano alimentar não era suficiente para mim. Quando comecei a melhorar física e psicologicamente percebi que ter um filho não é apenas cuidar dele. É cuidarmos de nós. É podermos correr com ele um dia. É podermos viver com ele e para ele o máximo de tempo possível. E assim decidi que a minha vida tinha mesmo que mudar. Sem paciência ou tempo para ginásios, comecei a correr. Comecei por correr uns metros. Sentia os músculos das pernas a queimar. Sentia os pulmões a serem expulsos a cada expiração. Sentia que jamais conseguiria mais do que aquilo. Mas era mentira. Nós somos sempre capazes de tudo o que queremos. Comecei a ter confiança que um dia seria capaz de correr 1 km, depois 2 kms, depois 3 kms.
Quando corria 6/7 kms não aumentava mais. Como se tivesse medo. Como se achasse que podia fracassar e não aguentaria esse fracasso. Comecei a seguir páginas de corrida e atletismo no facebook e percebi que só conseguiria ultrapassar o receio de falhar por tentar correr mais, inscrevendo-me numa prova. Ainda pensei inscrever-me na fun race da Maratona do Porto, mas faltou-me a coragem. Foi em Novembro e fui apenas ver e apoiar os meus amigos. Especialmente o António Franco, amigo que conheci há uns 12 anos (sim, Franco, já lá vão estes anos todos!!!), que não corria e que mudou de vida. Hoje corre. Corre a sério. E orgulho-me de assistir na plateia (ao vivo ou virtual) aos seus feitos. Aos recordes pessoais. À alegria de cortar as metas por esse país e mundo fora. Sempre com a sua camisola do Boavista, sempre feliz por andar por cá. Apoiei-o e "vi-o" fazer os 42 kms em menos de 3h. Podia lá eu inspirar-me noutra qualquer pessoa?????
Pois bem, vim para casa no dia da maratona com as palmas das mãos doridas. Gritei por atletas, por pessoas, capazes de ultrapassar medos, receios, fragilidades. E decidi que me inscreveria numa prova. E assim foi. Inscrevi-me na S. Silvestre do Porto. 28 de Dezembro de 2014. 10 kms. Tinha tempo para treinar e estava determinada.


Comecei a treinar. Sentia-me bem. Decidi que terminaria a prova, nem que fosse de gatas. O meu marido disse logo que me acompanharia. O António Franco também (e prometo Franco que nunca mais correrás comigo àquele ritmo miserável de ontem, do qual me orgulho tanto, que me permitiu terminar a SS sem parar!!). O primo Luís também foi fácil de convencer (o que seria de mim sem ti durante a corrida?? Já só quero correr contigo, sim?) e o cunhado Ricardo também. Bora lá ser saudáveis, pois claro!!


Chegou Dezembro. Mas Dezembro não chegou como pretendia. Corri uma vez. Bom treino. 7 kms a bom ritmo. Fiquei com dores de garganta. Não fiz nada. Passados 3 dias fiquei de cama. 10 dias de cama. melhorei, mas não o suficiente para correr. mais uma semana. Finalmente voltei a correr. 6 kms em terreno plano, onde gosto mais, junto ao mar e ao rio na minha terra. Bom treino. Fiquei confiante. O Pedro ficou doente. Uma semana enfiada em casa, incluindo o Natal a comer e a beber. E o dia chegou...


No dia 27 de Dezembro fui levantar os dorsais. Aiiiii que emoção. O meu primeiro dorsal. 4627. Para nunca mais esquecer este número. Vim para casa com um sorriso de orelha a orelha. Fiquei com receio de nem dormir com a ansiedade. Mas até o Pedro colaborou e o Loubie também!
28 de Dezembro tinha previsão de chuva. Jura, S. Pedro?? Não! Ele estava só a rir às gargalhadas. O dia amanheceu frio, muito frio, mas sem chuva. Para podermos ir os dois, tivemos a colaboração preciosa dos padrinhos maravilhosos que o meu filho tem. Ficaram cá em casa com ele e... Ele agradeceu!!
E lá fomos. Parecia uma miúda na Disney. A olhar para toda a gente, admirada e maravilhada com o ambiente das corridas. Pessoas bem dispostas, prontas para correr. Pessoas ultra bem dispostas, prontas para aplaudir quem corria. É lindo de ver e participar.


Tal como o prometido, fomos juntos. Mais atrás ou mais à frente. Mais à direita ou mais à esquerda. O António Franco, o Luis Pedro, o Luís, o Ricardo e eu (e o amigo do António Franco que ía tão entediado ao meu ritmo que até fez reportagem televisiva pelo caminho...).
Os primeiros 2 kms são duros. Subir Sá da Bandeira e Sta. Catarina até ao Marquês é dureza. mas quando lá cheguei pensei que o primeiro objectivo estava cumprido. Não é que tinha chegado viva ao Marquês? Não é que ainda respirava? Não é que continuava a correr? Tirando um ou outro momento, a corrida foi tranquila. Ritmo lento, mas regular. Era o que me interessava. Aos 5 kms pensei "Boa! Boa! Boa! Vais conseguir na Boa!" Estava doida. Comecei a ficar cansada e o frio começou a atrapalhar a respiração. Mas depois, quase a entrar no Túnel de Ceuta, vi uma miúda de 7/8 anos a correr também. Podia lá eu desistir? Mais uma dose de energia. Uma ajudinha numa subida. As palavras do meu primo "Respira. Olha para o chão. Não penses no que vem. Tu consegues. Concentra-te. Pensa em coisas boas." Posso dizer que o ambiente dentro do túnel é extraordinário. "Don't stop me now" nas alturas. Dava vontade de dançar, não estivesse eu já quase morta. Mas ainda cantei. E havia mensagens da organização ao longo do túnel "Agora é sempre a descer!" (mentirosos!!!!) ou "Está quase! Não desistas agora!". Ainda tive tempo para sorrir, mas depois comecei a subir para sair do túnel e quase morri... Não, não estou a exagerar. Que subida horrorosa em momento tao mau. Só via pessoas a pararem. Os socorristas com uma miúda no passeio. Passou-me pela cabeça atirar-me para o chão também. Mas não. Tinha dito que não ía parar. Alguma vez falhei com a minha palavra?? Nunca! Continuei. Em estado morta-viva, mas continuei. Pensam que a tortura acabou?? Nada disso! Subir a Avenida dos Aliados e dar a voltinha na Trindade para cortar a meta é qualquer coisa de diabólico. Aliás, quem determinou o percurso assim deve ter algum tipo de prazer ao ver os corredores entre o km 9 e 10 quase a morrerem com os pulmões de fora e as pernas desatarraxadas do resto do corpo. Era assim que eu estava. Mas comecei a descer. Vi as luzes da meta. O meu primo disse-me "Olha ali. As luzes. São 10 kms. Conseguiste!!" E eu disse-lhe "Vamos!". E fiz um sprint final. O máximo que podia acontecer era cair e partir-me toda, mas Deus pensou que eu merecia terminar a SS de forma digna e ajudou-me na maluqueira. No final estavam os meus tios, que já tinham aplaudido e gritado à saída do Túnel, com camisolas secas e lavadas para nós vestirmos. Fui buscar a medalha. E foi quase melhor que um diamante. Pronto. OK! Já chega de delírio. Nada é melhor que receber um diamante. Só mesmo 2 diamantes. Mas esta medalha foi um presente maravilhoso de receber. E consegui. E não fui a última. Apesar do tempo ter sido uma valente merda, foi o possível, o que de melhor eu podia fazer e, ainda assim, ficaram uns 500 ou 600 corredores atrás de mim. Mau para principiante?? Não! Maravilhoso!


Hoje quando acordei até tive medo de me mexer. Tive medo de me levantar. mas tinha que ser, certo? Levantei-me e... UAU! Nada de dores nas perninhas. Nada! Ouviram bem. E que fiz eu? Fui fazer uma caminhada com o Loubie. Uns 4,5 kms para não dar descanso aos músculos. E amanhã? Vou correr, pois claro. Porque amanhã já me vou inscrever noutra. E porque amanha vou conseguir fazer melhor que hoje. E porque como diz o António Franco, é muito bom andar por cá!
Obrigada a todos pelo apoio!
Obrigada aos meus acompanhantes de LUXO! eheheheheheheh


Beijooooooo

2 comentários:

  1. Já te disse antes, mas adoro os teus textos!
    Continua a correr, mas não te esqueças do Livro ;)
    Beijinhos e Bom Ano!

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  2. Obrigada Andreia!
    O livro está nos meus sonhos. Quem sabe? Até lá fico muito feliz que me acompanhes aqui, no meu casulo.
    Beijinhos e feliz 2015!

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