sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Memórias felizes

Hoje escrevo sobre sentimentos. É difícil, mas devo-o a mim própria.

As minhas memórias de infância e adolescência foram "filtradas" há muito por um acontecimento triste que me marcou: a doença do meu pai. Posso dizer-vos que uma parte considerável da minha vida (atendendo a que tenho 31 anos e o meu esteve doente 6 anos e meio) foi apagada do meu "baú" de recordações. Existem sombras de algumas coisas, mas nada nítido... Durante muito tempo lutei contra isto, sem que nunca nada me fizesse lembrar coisas simples e felizes...

Até hoje! Hoje uma simples música, que já ouvi tantas e tantas vezes, publicada no facebook pela minha irmã, para que eu ouvisse, provocou em mim um turbilhão de angústias, misturadas com gargalhadas, enternecidas com sombras que aos poucos foram ganhando formas. Hoje lembrei-me de coisas magníficas da minha infância. Quase senti na pele o que esteve tanto tempo escondido num labirinto. E hoje tive mais razões para me sentir feliz, segura, autêntica.
Hoje ouvi a voz do meu pai a contar-me histórias todos os dias antes de adormecer. Hoje senti um beijo terno de boa noite, diário, na minha testa. Hoje senti o beijo esquimó do meu pai. Hoje vi o olhar dele, perto do meu, quando me fazia sentir as suas pestanas grandes. Hoje ouvi uma gargalhada dele. Hoje senti a mão dele a apertar a minha. Hoje senti a cabeça dele encostada na minha, numa tarde de Domingo, deitados no sofá, a ver corridas de F1. Hoje vi o meu pai a ensinar-me a conduzir uma mota. Hoje vi o meu pai orgulhoso na minha promessa nos escuteiros. Hoje senti um abraço do meu pai, apertado, bem apertado, com medo de me perder. Hoje vi uma lágrima escorrer-lhe no rosto, quado teve uma conversa mais séria comigo. Hoje ouvi o meu pai cantar esta música...

E, sim, faz-me muita falta. Mas foi pleno, foi verdadeiro, foi equilibrado, foi cheio. Não posso pensar no tempo sem ele. Devo lembrar-me do tempo que tive. Porque foi, definitivamente, um privilégio ser sua filha. E nada, mesmo nada, poderá fazer-me sentir menos forte!!!
Por tudo isto, meus amigos que têm filhos, sobrinhos, afilhados, crianças que amam, mostrem-lhes todos os dias o quanto significam na vossa vida através de pequenos gestos, porque um dia serão as memórias desses momentos o melhor alimento da alma...

2 comentários:

  1. Há coisas que não se comentam!!! Leem-se e apreciam-se... obrigado!
    Beijoca

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  2. Eu é que agradeço!!! Sei que se os conselhos fossem bons, seriam vendidos... Mas, ainda assim, ousei aconselhar, pela experiência que tenho. Não interessa o tempo. Importa a qualidade dos momentos passados...

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